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O Senhor dos Anéis Sobre a Natureza

Felipe Santos

Frodo morava no Condado — um paraíso rural de hobbits simples e felizes — até que Gandalf, o mago cinzento, avisou que a posse do anel do Senhor Sombrio colocou Frodo na missão de libertar a Terra Média do mal que assolava aquela era: o medo. O aclamado livro de fantasia é sobre muitas coisas, mas acima de tudo é um relato sobre a esperança nascendo em tempos e lugares improváveis. Além disso, é necessário entender como o autor vê o mundo para saber o que ele quis dizer.


Li tanto de Tolkien que é quase como se o tivesse conhecido pessoalmente, e muito do que ele escreveu nasceu de duas excêntricas paixões: línguas antigas e plantas. Agora, claro, vou focar na segunda. Se já não está claro que ele gosta de árvores depois que o autor gastou quase três páginas descrevendo uma, ele escreve em uma carta no prefácio de Árvore e Folha: “noto [as árvores] mais do que a maioria das outras coisas (bem mais que noto pessoas)”. Esse afeto genuíno não ficaria parado na contemplação: suas obras estão permeadas de defesa pela natureza, passava horas plantando em casa, como dito pelos filhos do filólogo.


Dito isso, essa admiração não faltaria a sua maior obra. As forças do Senhor Sombrio estão constantemente queimando os campos, derrubando as árvores, ameaçando tornar o Sul da Terra Média um deserto de troncos e cinzas. Do outro lado, os hobbits moram no campo (dentro de tocas!) e os elfos no meio das árvores. Muito bem representado nos filmes de Peter Jackson, a dicotomia de mal e bem traz uma assimilação com desmatamento e sustentabilidade.


No clímax do segundo livro, esse desmatamento é diretamente confrontado quando o mago Saruman começa a cortar friamente as árvores da floresta Fangorn. Barbárvore, o pastor daquela floresta (que ele mesmo é uma árvore que anda e fala, um “Ent”) reúne os Ents de Fangorn e a própria mata se revolta contra a fortaleza de Saruman. Mas não se engane — o mais surpreendente — Barbárvore não está do lado de Gandalf, exatamente.


Se entendemos os lados da Guerra do Anel como a disputa política do mundo moderno, a posição de Barbárvore representa a posição que Tolkien tomou em suas opiniões e até mesmo a posição política do Meio Ambiente, se ele pudesse falar e tomar partido nas discussões: “Eu não estou realmente do lado de ninguém, porque ninguém está realmente do meu lado.” Barbárvore reconhece o lado certo mas o fato é que a natureza nunca foi o foco de nenhum lado.


Logo, a lição escondida sobre a natureza dentro da obra de Tolkien é justamente a sua falta de defensores. Como cidadãos comuns, não temos o poder de parar nenhuma guerra, mas temos o dever de se importar com o foco que o mundo leva na atualidade. Enfim, mesmo sendo um livro com variados assuntos, O Senhor dos Anéis discute bem a fragilidade do meio ambiente e sua necessidade de esperança — apesar de poucas pessoas perceberem esse tema ali.

 
 
 

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